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Fim do blog – Novo blog

Infelizmente,  escrevo para notificar o fim do Sagaz. Devido a falta de tempo e também pelos posts ter várias temáticas que não se entrelaçavam, o blog não conseguiu estabelecer uma identidade própria e acabou perdendo todo o sentido para mim.

Não pretendo deletar o seu conteúdo e deixo os posts desses quase 3 anos de existência disponível para quem quiser acessá-lo. Agradeço a todos que escreveram e compartilharam experiências durante toda a vida do Sagaz.

Criei um blog que talvez tenha mais a ver comigo. Segue o endereço para quem quiser acompanhar os meus novos escritos.

www.marginaliasocial.wordpress.com

Engolindo sapos

Engolir sapos pela vida afora é uma coisa muito comum para a maioria das pessoas.

Engolimos dos pequenos aos grandes sapos e todos, de uma forma ou de outra, descem e fica por isso mesmo.

Todo mundo cria seus sapos.

Hospitais, restaurantes, bancos (um dos maiores criadores), seguradoras, escolas, operadoras de cartão de crédito, empresas de transporte, igrejas, supermercados, táxis, empresas de telefonia, lojas, empresas em geral, governo (o maior criador; cria também elefantes e rinocerontes), amigos, família, etc.

sapos-amor-sociedade
Engolindo sapos-imagem-google:limonadabrasileira.blogspot.com
 
O amor é outro grande criador de sapos.

Pode não ser o maior criador, mas é o mais habituado em fazer com que as pessoas engulam seus sapos.

Tem gente que se engasga, esperneia, chia, chora, se esconde, some, mas, do nada, estão de volta com outro sapão esperneando na boca.

Engolem e ficam macios como seda.

O último sapo que engoli?

Só pra variar, foi do amor.

A última companheira que tive me disse na lata:

Você?, você não tem futuro como homem!

O sapão desceu rasgando, lágrimas nos olhos, e a criadora de sapos…

Nem aí!

Não é uma merda?

Ditadura da música ruim

Uma coisa é certa:

Ouvir Beethoven, Tchaikovsky, Wagner, Chopin, Mozart, Villa-Lobos, Ernesto Nazareth, Pixinguinha, Cartola, Noel Rosa, Frank Sinatra, Ella Fitzgerald, Louis Armstrong, Chico Alves, Paulinho da Viola, Chico Buarque, Elis Regina, Luiz Gonzaga, Caetano, João Bosco… etc etc etc 24 horas por dia seria um saco.
Ninguém merece!

Agora, aguentar Bruno&Marrone, Leonardo, Daniel, Ivete Sangalo, Xitãozinho e Xororó, Zezé di Carmargo&Luciano, Margareth Menezes, Cláudia Leite, Banda Calypso, Gaviões do Forró, Chiclete com Banana… etc etc etc na cabeça o dia, o mês, o ano inteiro é coisa pra se chamar a polícia pra acabar com a poluição sonora.

Ô bando de gente chata!
Ô horror!
Ô ditadura cruel da música ruim.
Os caras mandam nos repertórios das rádios.
Mandam em tudo!
Sou contra tudo&todos?
Não!
Todo mundo tem o direito e merece o seu lugar ao sol.
Só que no Brasil este povo de música ruim ficou com o sol só pra eles.
Não entra mais ninguém!
É negócio fechado!
Um saco!

Bem que poderíamos ouvir todos os dias Beethoven, Tchaikovsky, Wagner, Chopin, Mozart, Villa-Lobos, Ernesto Nazareth, Pixinguinha, Cartola, Noel Rosa, Frank Sinatra, Ella Fitzgerald, Louis Armstrong, Chico Alves, Paulinho da viola, Chico Buarque, Elis Regina, Luiz Gonzaga, Caetano, João Bosco… Bruno &Marrone, Leonardo, Daniel, Ivete Sangalo, Xitãozinho e Xororó, Zezé Di Camargo&Luciano, Margareth Menezes, Cláudia Leite, Banda Calypso, Gaviões do Forró, Chiclete com Banana… e também o Mél, o Viola de Bolso e mais um monte de grandes compositores que não têm a menor chance de participar do mercado musical brasileiro.

Bem que poderia acontecer, não?
Mas o dinheiro sempre fala mais alto.
E cala algumas boas cabeças.
E silencia as boas canções.
É uma pena!

A metáfora criada pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu busca explicar como a escola, ao não levar em conta o capital cultural de alunos vindos de diferentes meios sociais, ajuda a manter a desigualdade através de um discurso da livre-iniciativa que resulta na manutenção do status quo.

Em função, disso para Bordieu, o discurso de igualdade que a escola prega não funciona na prática. O mito do gênio é negado. Nota-se que o autor não fala de excessões e sim de regras normativas que se perpetuam ao longo do tempo.

Vários autores passaram a mostrar que nem sempre as desigualdades sociais se reproduzem completamente na sala de aula. Mas, contudo, as conclusões de Bourdieu não foram contestadas.

Segue abaixo o vídeo que apresenta uma síntese relacionado ao conceito de capital cultural:

Sem tempo para sagacidade

Devido a um período conturbado da minha vida, principalmente em função da universidade, eu quase não pude me dedicar o mínimo que gostaria ao blog.

Até mesmo os posts do Tõeroberto (muitos deles coletados por mim) deixaram de ser adicionados nesse espaço. Contudo, aos poucos, eu pretendo voltar a escrever, e espero trazer algumas novidades ao Sagaz.

Pelo menos, a minha ausência serviu como um momento de aprendizado, principalmente em relação as teorias da minha área: Ciências Sociais.

Em função disso, gostaria de compartilhar um pouco dessa experiência aqui no Sagaz. Mas na medida do possível, não esperem nada além das minhas possibilidades, pois a falta de tempo traz consigo certo desanimo que precisa ser combatido para não vir à tona novamente.

No mais espero que esse retorno ofereça alguma novidade e, além disso, que sirva para uma troca de conhecimento entre todos os que aqui postam e os leitores. Caso o contrário, o objetivo básico desse blog passa a não fazer mais nenhum sentido.

Att Inã

Hoje estava me lembrando de quando, em 1980, me mudei pra Vila Moraes, em São Paulo.
Estávamos em pleno regime militar, sob o comando do Gal. João Baptista Figueiredo, o último dos fardados a comandar o Brasil.
E fui cair justamente no meio do turbilhão político da década de 80, com as greves dos metalúrgicos do ABC em 1979 e 1980.
E no meio da fundação do PT, em 10 de fevereiro de 1980.
E lá conheci muitas pessoas que, de uma maneira ou de outra, participavam ou conviviam com quem participava do movimento sindical.
Entre eles o meu grande amigo – grande nos dois sentidos: como pessoa e no tamanho; mais de 1,90 m – Stefan Mantu -, o Piga.
O grandão doce, militante apaixonado pelo movimento sindical.
O sujeito que se ferrava pessoalmente pela sua participação no movimento e estava sempre na cabeça das listas negras dos patrões do ABC.
E batalhava pela edição do Jornal “O Trabalho”, representante da classe trabalhadora.
Eram festas e festas em sua casa, pra arrecadar fundos para a manutenção do Jornal.
E lá, no meio do agito da militância política, a música corria solta.
O Grupo Acordel, do qual ele participava, e que lançou o disco Acordel, faz parte do acervo musical da boa música de São Paulo.
Arte de primeira linha.
E no meio das discussões políticas – nós, teóricas; ele, na prática – costumávamos atravessar as noites cantando, bebendo, rindo, chorando, brigando… e aprendendo, o que era mais importante.
E nos reuníamos no Boteco da Piranha na Consolação, em sua casa, na casa de outros amigos, no meu apartamento e fazíamos muita poesia… muita música, num tempo em que tudo parecia estéril, onde nada crescia, nada vingava, dada a permanente escuridão em que o Brasil estava mergulhado desde 1964.
E nestas rodadas noturnas conheci muitas pessoas.
Sua esposa Roseli, depois Isa; suas filhas Juliana, Cris e Mariana; Dalva, Sônia, Luiz, Marina, Marlena, entre outros.
O meu amigo compositor, Efraim; Inez, sua esposa; seus filhos Juninho, Claudinha, Carminha e Fabinho; seus irmãos, Adinho e Laurinho.
Com ele compus, como letrista, diversas músicas e fundamos o Grupo Violação, grande vencedor de festivais.
Plínio, Jorge, Cidinha, Goiás Brasil que participaram do Grupo Violação.
E muitos outros dos quais não me lembro agora ou já esqueci o nome, já que se passaram quase 30 anos.
Um tempo importante na minha vida.
E eu me lembrei desse tempo e me deu vontade de registrar.
E fiquei com saudade do meu amigo Piga.
Da sua voz doce ao violão, do seu sorriso tranquilo e dos tempos que éramos todos jovens.
E ainda acreditávamos num grande futuro para a gente sofrida do Brasil.
E achávamos que o PT nos levaria ao paraíso.
Sem a menor ideia de que viveríamos no purgatório.
Com a cara no chão!
10 segundos foi o tempo que durou aquele beijo.
Míseros 10 segundos!
E bastou!
O tesão, a paixão, o amor, a loucura subiram pelas pernas, foram até o cérebro, se organizaram da maneira mais doida do mundo e desceram pro coração de Leomário.
Lá se fixaram.
E pronto!
Um doido nasceu para o mundo.
Quirinha se afastou do beijo.
Não era bem o que queria/pensava.
Achou tudo um grande engano, se desculpou, pegou a bolsa, se despediu e ia sair.
Leomário foi até a porta, girou a chave, tirou da fechadura e guardou no bolso.
Quirinha questionou.
Leomário olhou apaixonadíssimo para ela.
Ela tentou chegar até a porta, ele barrou.
Ela questionou de novo.
Ele, sem mais nem menos:
Mulher minha não faz o que quer!
Susto, desespero… conversa.
Nada!
Irredutível!
Pra cima, outro beijo.
Não! Não! E não!
Encostada na porta:
Sai!
Não!
O corpo no corpo!
A luta.
Tentativa de sair.
Nada!
A mão no pescoço!
A falta de ar.
Um grunhido… e pronto!
O amor não tem fronteiras.
Tanto nos aproxima de Deus, como pode matar.
Ou pode convidar o diabo para o beijo apaixonado.
Ou para a dança ao luar.
Depende do caso!

Justificando ausência

Caros leitores, como membro do blog, venho aqui, antes de mais nada, me desculpar com vocês que gostam (ou não) do nosso trabalho, pela nossa ausência nos últimos meses.
Acontece o que acontece com todo cidadão (se realmente tal existe) nesse país que precisa estudar, trabalhar e dar conta de ir um pouco além com vistas a galgar melhores condições de (sobre)viver nessa triturante máquina competitiva que se tornou o nosso Brasil capitalista: falta de tempo. E como não somos adeptos a levar as coisas, no dizer popular, empurrando com a barriga, a falta de escolha nos obriga a ficarmos ausentes nesses momentos.

Mas queremos deixar claro que o blog não acabou, tão pouco tal ideia está pairando em nossas mentes. O quanto antes – assim desejamos – estaremos de volta trazendo nossas ideias, impressões, reflexões, apontamentos, sentimentos e tudo que aqui cabe sobre tudo o que aqui couber.

Abraços à todos e, mais uma vez, nosso sincero pedido de desculpas.

Oliveira Vianna enxerga o problema do Brasil na ausência de liberdade civil, e não na ausência de liberdade política. Neste ponto ele critica os liberais, por serem homens de doutrina, posto darem extrema importância ao problema da liberdade política quando deveriam colocar em primeiro plano a liberdade civil. E, como homens de ação, também se equivocam por procurarem

através de Constituições, lutas, sistemas eleitorais, revoluções, dar realidade à liberdade política, num país, cujos cidadãos, principalmente os das classes populares, não conseguiram ainda assegurar a sua liberdade civil (Vianna, s/d, p. 88).

Para ele, então, o governo do “bom tirano”, como diz, exemplifica a possibilidade de existir “um regime de perfeita liberdade civil sem que o povo tenha a menor parcela de liberdade política” (VIANNA, s/d, p. 88). Eis o grande equívoco, para ele, dos nossos liberais: supor que poderia existir um regime de liberdade política sem dantes estar garantida a liberdade civil. Devido a nossa formação histórica, que não formou verdadeiros cidadãos – para ele, o homem público à maneira inglesa – “com sua consciência cívica, a sua independência política, a sua combatividade eleitoral, a sua confiança no direito e na lei”, faz-se então imprescindível a organização da justiça “como um dos meios de dar realidade à nossa democracia de letra e forma” (VIANNA, s/d, p. 89). No Brasil, para o autor, não termos nem liberdade civil nem liberdade política, se daria pelo fato de nunca termos tido uma eficiente organização da justiça.

No tocante a organização da justiça, para Vianna, ela não poderia passar pela organização partidária, isto é, um determinado partido que levante a bandeira da Justiça, suporia a existência de seu antagônico, ou seja, um que arvorasse a bandeira da Injustiça – coisa esta inaceitável. É claro, para ele, que todos se colocam a favor da Justiça e não há quem, confessadamente, se coloque de lado oposto a ela. Ele diz:

O desejo de justiça é uma aspiração que está no fundo da alma de todo homem – e não pode servir para mote de ação política, para lema de bandeira partidária, para descrime de grupos que militem no campo da vida pública (Vianna, s/d, p. 90)

De acordo com ele, o ideal de Justiça se trata de um alvo a que se pretende alcançar, como todo ideal, o “essencial está, portanto, em determinar o plano itinerário mais apto para irmos até lá” (VIANNA, s/d, p. 90). A Justiça, enquanto princípio, para Vianna, está como palavra de ordem presente em todos os campos, do “campo democrático, bradam-nos apenas: Justiça! Mas este também o grito dos outros grupos […]” (VIANNA s/d, p. 90). Em suma, é um ideal comum. O problema está, para ele, no seguinte:

Os que estão agitando a bandeira de Justiça traduzem apenas, numa palavra-lema, uma aspiração geral, que não é de um grupo, mas de todos os grupos, da Nação na sua totalidade. Estão fazendo obra meritória, talvez, de agitação, de protesto, de reação; nunca, porém, obra de edificadores políticos e de organizadores de partidos – obra de reforma, de construção, de organização, como se faz mister. (Vianna, s/d, p. 91)

É evidente para o autor, que o equívoco dos nossos liberais, tanto os do Império quantos os de sua época (1930), se relaciona diretamente a questão do ideal de Justiça, posto que sempre a ferirem. Contudo, diferentemente dos liberais de sua época, Vianna vê nos liberais do Império a preocupação com a questão prática, isto é, não se limitaram a apenas enunciar o ideal de justiça, antes formularam programas detalhados, ou seja, “um sistema de medidas por eles julgados capazes de dar realização a este ideal” (VIANNA, s/d, p. 91). E cita como exemplo os programas do Partido Progressista em 1864, do Partido Liberal em 1869, do Partido Radical em 1868 e do Partido Republicano em 1872. Para ele, estes demonstravam ter uma “noção concreta, objetiva, prática do que julgavam necessário para fazer” (VIANNA, s/d, p. 92). No seu dizer:

Os nossos modernos organizadores de programas não agem assim; não indicam as suas preferências; ficam nas generalidades. Mas generalidades nunca serviram para abandeirar homens conscientes, que querem marchar seguros para o seu alvo. Em torno delas poder-se-á congregar a massa dos indivíduos mais ou menos predispostos, por feitio mental, a estarem antes com a pessoa dos chefes do que com as ideias dos chefes. Os espíritos, porém, para os quais os programas políticos devem objetivar normas claras de ação, pontos concretos de reformas, não se contentam de generalidades e pedem coisas mais objetivas, mais práticas, antes de darem a sua adesão (Vianna, s/d, p. 92).

No Brasil, segundo o autor, a justiça não é acessível, segura, muito menos eficiente, daí a sua preocupação com a organização da justiça em primeiro lugar. Organização no sentido de garantir a liberdade civil, visto que, para ele, tal qual a organização judiciária existe saída da Constituição de 1891, ela possui falhas graves (sem poder de auto-organização, tirar o poder Judiciário da subordinação ao Poder Executivo que escolhe, nomeia, promove, remove e demite) que precisam de mudanças. Eis o grande problema, para Vianna, que se passa no país com o Poder Judiciário: o Supremo Tribunal Federal está, em sua formação, completamente subordinado a dois poderes essencialmente políticos, a saber, o Legislativo e o Executivo.

Ele diz:

Como o Legislativo é hoje uma entidade meramente expletiva, pode-se dizer que a organização do nosso mais alto tribunal está subordinada exclusivamente ao mais político de todos os poderes: o Executivo. Este fica com o arbítrio de mandar para lá, ou um magistrado às direitas, ou simplesmente um advogado do governo, ou um juiz ou um “camarada” – à vontade.

O que é preciso evitar é justamente isto, é justamente que a constituição da nossa suprema magistratura continue sujeita às possíveis influências do espírito de facção. O que se deve fazer é por no grande Tribunal o direito de organizar-se a si próprio e não só a si próprio, mas as outras judicaturas do país (Vianna, s/d, p. 94/95)

Ciente da implicação que essa auto-organização do Supremo poderia significar, Vianna é enfático:

Os demagogos dirão que isto importaria em instituir e legalizar, dentro da nossa democracia republicana, uma nova modalidade de oligarquia: – “a oligarquia do Supremo”. Todos estamos vendo que isto é apenas uma frase; mas, mesmo que correspondesse à realidade, ainda assim seria um bem. De todas as oligarquias possíveis em nosso país, a “oligarquia do Supremo” – a oligarquia da Toga – seria ainda a única realmente benéfica e liberal, a única, cuja opressão não humilharia – porque seria a opressão da Lei e não do arbítrio (Vianna, s/d, p. 95).

Para Vianna, no Brasil, não adianta os federalismos, municipalismos, sufrágio direto ou sufrágio universal, regalias de autonomia, não havendo o primado do Poder Judiciário. De nada valerão o sufrágio e o self-government “sem que este Poder tenha pelo Brasil toda a penetração, a segurança, a acessibilidade que o ponha a toda hora e a todo o momento ao alcance do jeca mais humilde e desamparado” (VIANNA, 1999, p. 477). Seu argumento é claro:

O ponto vital da democracia brasileira não está no sufrágio liberalizado a todo o mundo, repito; está na garantia efetiva do homem do povo-massa, campônio ou operário, contra o arbítrio dos que “estão de cima” — dos que detêm o poder, dos que “são governo”. Pouco importa, para a democracia no Brasil, sejam estas autoridades locais eleitas diretamente pelo povo-massa ou nomeadas por investidura carismática: se elas forem efetivamente contidas se impedidas do arbítrio — a democracia estará realizada. (Vianna, 1999, p. 479)

O que Vianna tem em mente é o modelo inglês de liberdade civil. Isso fica expresso ao citar William Pitt, quando em pronunciamento no parlamento inglês, afirmava que lá não havia

nenhum homem, por sua fortuna ou categoria, é tão alto que esteja acima do alcance das leis e nenhum é tão pobre ou obscuro que não desfrute da sua proteção. Nossas leis proporcionam igual segurança e garantia ao exaltado e ao humilde, ao rico e ao pobre (Vianna, 1999, p. 478).

A democracia inglesa, como a entende Vianna, se realizava pela garantia dos direitos individuais do homem e do cidadão, não pelo sufrágio universal – inexistente na época. No Brasil, pelo fato de existir um longo hábito de impunidade na sociedade, faz-se necessário essa organização da justiça em primeiro lugar, para poder eliminar esse costume de impunidade que assegura o arbítrio e corrompe a tudo. Feito isto, as liberdades civis estarão asseguradas. Mas ele adverte:

É certo, porém, que esta eliminação, a erradicação deste hábito de impunidade não poderá ser obtida, como presumem os nossos liberais fascinados pelo exemplo inglês mediante as chamadas “franquias autonômicas” — municipais ou estaduais. Estas poderão ser úteis para outros fins administrativos, menos significativos; não para este fim específico e superior. É o que a nossa História nos tem ensinado (Vianna, 1999, p. 479).

O que quer Oliveira Vianna, é colocar o Poder Judiciário fora da subordinação dos poderes Executivo e Legislativo, para ele, poderes sempre partidários e facciosos. Dessa forma, seria garantida a cidadania no Brasil, pois a justiça estaria não só acessível de modo a assegurar a estes a liberdade civil, como também estaria livre – a justiça – do arbítrio dos poderes políticos.

Fontes:

BUENO, Thiago Martins Barbosa. Estado e Sociedade no Pensamento Conservador Brasileiro: Alberto Torres e Oliveira Vianna. São Paulo: FAPESP, 2010.

VIANNA, Oliveira. O Idealismo da Constituição. Campanha Editora Nacional, 2ª Ed., 1939. (Biblioteca Pedagógica Brasileira).

VIANNA, Oliveira. Instituições Políticas Brasileiras. Brasília: Conselho Editorial do Senado Federal, 1999. (Coleção biblioteca básica brasileira)

VIANNA, Oliveira. Problema de Política Objetiva.

Francisco José de Oliveira Viana (Saquarema, 20 de junho de 1883Niterói, 28 de março de 1951) foi um professor, jurista, historiador e sociólogo brasileiro, imortal da Academia Brasileira de Letras. O autor se insere no roll dos autores que constituem o chamado pensamento nacionalista autoritário brasileiro que, por sua vez, são influenciados fortemente pela corrente de pensamento positivista, especialmente a comtiana. Dentre os principais expoentes dessa linhagem de pensamento autoritário no Brasil, podemos destacar: Francisco Campos, Alceu Amoro Lima, Plínio Salgado, Alberto Torres entre outros.

No presente artigo (dividido em duas partes), utilizarei Oliveira Vianna e os conceitos de “idealismo utópico” e “idealismo orgânico”, na tentativa de fazer uma leitura da formação político-institucional do Brasil. A partir desses conceitos, meu objetivo é chegar ao problema da organização da justiça no Brasil tal qual entende o autor, ou seja, como tarefa de extrema necessidade para que se garanta a liberdade civil e os direitos individuais aos cidadãos, bem como a solução que o mesmo propõe dada a história do país, a saber, o que ele chama como a melhor das oligarquias possíveis no país, a oligarquia da Toga.

  1. Idealismo Utópico e Idealismo Orgânico

Oliveira Vianna, em sua leitura de nossa construção política, afirma não ter sido no povo que seus organizadores e elaboradores – dos nossos códigos políticos – foram buscar inspiração, se assim podemos dizer, a matéria-prima, ou seja, o seu fundamento primeiro. Pelo contrário, segundo ele, “é fora de nós, é nas jurisprudências estranhas; é em estranhos princípios, é nos modelos estranhos, é nos exemplos estranhos, e em estranhos sistemas que eles se abeberam e se inspiraram” (VIANNA, 1939, p. 8). Essa inspiração exógena a que se refere o autor, se encontra na Declaração de Independência norte-americana (1776) e na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão advinda da Revolução Francesa (1789). Nosso autor volta seu olhar para este processo particular de nossa construção política e suas influências no modelo de nossa organização constitucional e, a partir dela, define dois tipos de idealismo político presentes no Brasil, a saber, o “idealismo utópico” e o “idealismo orgânico”.

Em linhas gerais, segundo ele, para os idealistas orgânicos, o problema da organização política e constitucional de um povo é essencialmente prático. Desse modo, para estes, não se “deve entrar nenhum dado apriorístico, nenhum preconceito de doutrina; mas, exclusivamente, os fatos observados, os dados da experiência – em suma: os fatores étnicos, sociais, econômicos, geográficos, etc.” (VIANNA, 1939, p. 8). Ao contrário dos idealistas utópicos, que se pautam por um sistema doutrinário, isto é, por “todo e qualquer conjunto de aspirações políticas em íntimo desacordo com as condições reais e orgânicas da sociedade que pretende reger e dirigir”. Estes – os idealistas utópicos – se caracterizam por um sistema constitucional em total dissonância entre a realidade social e seu código político. No dizer do autor “é a disparidade que há entre a grandeza e a impressionante eurythmia da sua estrutura e a insignificância do seu rendimento efetivo – e isto quando não se verifica a sua esterilidade completa” (VIANNA, 1939, p. 10-11).

Para aqueles cujo idealismo orgânico é o horizonte de pensamento, o pragmatismo é a “palavra de ordem”, posto estarem interessados em

saber se esta edificação – constitucional – corresponde, pelos seus componentes arquitetônicos e pelas suas peças essenciais, à finalidade suprema de toda organização política: integral realização do direito, no interior; no exterior, defesa da sociedade contra os seus inimigos. (VIANNA, 1939, p. 8 )

O que importam e, necessariamente, uma organização política deve refletir em sua estrutura, são as “particularidades e idiossincrasias do povo a que pertence” (VIANNA, 1939, p. 8). Em contrapartida, àqueles de matiz idealista utópica, Vianna diz que o mecanismo político gerado por tal modelo falta em sua finalidade interna, qual seja a garantia do direito. Isto haja vista sua “nenhuma adaptação às condições reais da sociedade em que deveria funcionar”. (Vianna, 1939, p. 10).  Já o idealismo orgânico, em suas palavras, “nasce da própria evolução orgânica da sociedade e não são outra coisa senão visões antecipadas de uma evolução futura” (VIANNA, 1939, p. 11). A este chamará de idealismo fundado na experiência.

No Brasil, para Vianna, jamais vivemos orientados pelo “idealismo orgânico”. Do contrário, diz ele:

É justamente este apego ao idealismo utópico a razão única de não termos conseguido ainda, no longo espaço de mais de um século de independência, realizar a definitiva organização social e política do nosso povo. É exatamente por isto que, ao celebrarmos o centenário da nossa emancipação, não pudermos exibir ao mundo coisa alguma realmente organizada: a) nem a nossa vida econômica; b) nem a nossa vida social e c) nem a nossa vida política. (Vianna, 1939, p.13)

O que temos visto no Brasil, segundo Barbosa Bueno (2010), são exaustivas tentativas, por parte dos nossos liberais, desde o Império e se estendendo à República, de reproduzir e copiar o modelo parlamentar inglês, o federalismo norte-americano e, também, o liberalismo democrático francês. Isto, para Vianna, é um claro exemplo de idealismo utópico, por importar fórmulas exógenas para a nossa realidade política e social. Esses idealistas utópicos, em total desarmonia com a realidade brasileira, segundo Oliveira Vianna, buscariam constantemente um tipo de Estado sem levar em consideração as nossas características particulares, denotando assim um ideal de Estado baseado em modelos estrangeiros, em nada respaldados em nossos costumes e, por isso, estariam fadados ao fracasso. Os “idealistas orgânicos”, ao contrário, buscariam o fundamento das leis, bem como da organização burocrática do Estado, em nossa “realidade social”, como forma de garantir a eficácia do funcionamento de nossas instituições políticas.

Fontes:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Oliveira_Viana

BUENO, Thiago Martins Barbosa. Estado e Sociedade no Pensamento Conservador Brasileiro: Alberto Torres e Oliveira Vianna. São Paulo: FAPESP, 2010.

VIANNA, Oliveira. O Idealismo da Constituição. Campanha Editora Nacional, 2ª Ed., 1939. (Biblioteca Pedagógica Brasileira).

VIANNA, Oliveira. Instituições Políticas Brasileiras. Brasília: Conselho Editorial do Senado Federal, 1999. (Coleção biblioteca básica brasileira)

VIANNA, Oliveira. Problemas de Política Objetiva.