Grande parte da minha infância foi vivida em um condomínio na cidade de São Paulo.
Foi naquele local que eu fiz minhas primeiras amizades e no qual eu aproveitei meus primeiros anos. Porém conforme eu crescia certas atitudes, começaram a me incomodar profundamente.
Muitos vizinhos faziam questão de cuidar da vida de todos. Eram comum eles se reunirem para ficar observando quem entrava e saia do prédio, como uma pessoa se vestia ou como se comportava enquanto estava na área de lazer.
O agravante é que a postura dessas pessoas, às vezes, resultava em ameaças ou insultos preconceituosos.
Esse tipo lamentável de comportamento coletivo, fez com que eu lembrasse de uma célebre poesia de Bertolt Brecht:
O vizinho
Eu sou o vizinho.
Eu o denunciei.
Não queremos ter aqui
Nenhum agitador
Quando penduramos a bandeira com a suástica
Ele não pendurou nenhuma bandeira.
Quando lhe falamos sobre isso
Ele nos perguntou se no cômodo
Onde vivemos com quatro crianças
Ainda há lugar para um mastro de bandeira.
Quando dissemos que acreditamos novamente no futuro
Ele riu.
Nós não gostamos quando o espancaram
Na escada. Rasgaram-lhe o avental.
Não era necessário. Temos poucos aventais.
Mas agora ele se foi, há sossêgo no edifícil.
Já temos preocupações demais
É preciso ao menos haver sossêgo.
Notamos que algumas pessoas
Viram o rosto quando cruzam conosco.
Mas os que o levaram dizem
Que agimos corretamente.
Esse poema foi escrito anos antes do início da Segunda Guerra Mundial. Mesma época em que a cidadania alemã de Brecht foi caçada.
Brecht retrata o vizinho dedo duro que denúncia um morador, por esse não ser a favor ou não demonstrar simpatia pelo regime nazista.
Esse tipo de situação, de vigiar e punir, também ocorreu na época da Ditadura Militar do Brasil e ainda hoje, infelizmente continua enraizado em nossa cultura.
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